sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sonhos (e desperdícios) de consumo


O comércio de brinquedos tecnológicos de gente grande continua aumentando assustadoramente e o tablet (ou seria "a" tablet?) já é o mais novo sonho de consumo daqueles que consideram "mobilidade" a palavra da moda.

O tablet vem ganhando um espaço que no início era só do computador de mesa. Começou com o computador desktop perdendo espaço para o notebook, que, por sua vez, cedeu lugar para netbooks, smartphones e, agora, também para os tablets. A tendência é mesmo por aparelhos portáteis com acesso à internet.

A mobilidade nos trouxe dois fatos curiosos. Há aqueles que limitam a mobilidade aos cômodos da casa porque existe o medo de sair por aí carregando um aparelho bonitinho na bolsa. E com razão. O segundo fato tem a ver com a "necessidade" de alguns de estarem conectados o dia inteiro.

As pessoas agora "PRECISAM" estar conectadas à internet o tempo todo, "PRECISAM" levar tudo para todo lugar, então "PRECISAM" levar no aparelho dezenas de livros, músicas, filmes, jogos e a internet para terem o que fazer na sala de espera do dentista. Também "PRECISAM" aproveitar a rede Wi-Fi do restaurante porque "PRECISAM" "xingar muito no Twitter" o garçom que trouxe o suco errado e "PRECISAM" compartilhar isso com todos no Facebook. Será que precisam mesmo? Enquanto isso, no mesmo restaurante um microempresário está num almoço com seus sócios falando sobre suas idéias. Ele puxa o tablet da bolsa e mostra gráficos, esboços, vídeos... tudo controlado com muita eficiência, simplicidade e elegância. E, veja só, acabaram de ter novas idéias para expandir a empresa.

Existem tablets para todos os gostos e bolsos. Segundo pesquisas da consultoria IDC, o Brasil já é um dos maiores mercados de tablets, onde as vendas triplicaram desde o ano passado. Estimam ainda que até o fim desse ano sejam comercializados cerca de 2,5 milhões de tablets no país, número que tende a dobrar no próximo ano.

O aparelho está na moda e, como tal, está sempre mudando o mercado. Foi assim com o MP3 player portátil até inventarem o celular que também tocava música. Foi assim também com a câmera digital, que todo o mundo queria ter, mas hoje o celular também agregou a função dela. Daqui a pouco inventarão outro produto ou um melhor e mais barato que o já existente para ser mais um na lista dos desejos do consumidor.  Do jeito que a sociedade anda, o departamento de marketing das empresas nem precisa se esforçar tanto para vender um produto, seja ele qual for.

A prancheta eletrônica que chamam de tablet é basicamente um produto para entretenimento. Parece que o foco aqui não é (ainda) produzir conteúdo, mas consumi-lo onde quer que você esteja.

Eu só queria propor um teste: brinque com um tablet durante meia hora e veja se ele vai parar na sua lista de sonhos de consumo. Veja os milhares de aplicativos disponíveis e brinque de ser engenheiro, músico, fotógrafo, arquiteto, guia turístico, detetive, enfim, qualquer coisa. Mas analise friamente, fique "em cima do muro" avaliando os dois lados e tente se convencer de que PRECISA AGORA de um aparelho que faz as mesmas coisas que aqueles outros já tradicionais já fazem no conforto de sua casa.

Quando você sai de casa para ir a uma festa, PRECISA mesmo levar o tablet? Lá também é uma rede social, mas é de verdade e não PRECISA de tablet para ficar acessando Facebook. Aliás, seria até indelicado de sua parte ignorar os outros à sua volta enquanto você curte e compartilha coisas dos outros que nem estão na festa, que nem são seus amigos, nem nada.
                                                                              
Quero deixar claro que tudo o que eu disse aqui foi só para provocar uma reflexão sobre nossas reais necessidades. Na minha infância tudo que eu precisava para me divertir era criatividade ou os amigos da rua e uma bola. Não PRECISAVA tanto assim de um videogame, apesar de ser muito divertido e viciante, além de estimular o raciocínio, desenvolver a coordenação motora – dos dedos, pelo menos  e proporcionar outras coisas benéficas comprovadas por uns cientistas malucos.

Bem, eu não acharia ruim se Papai Noel existisse e me desse hoje um tablet Samsung Galaxy Tab 2 P3110 qualquer, mas o gordinho barbudo não existe e mesmo assim não saio por aí comprando coisas por impulso. Afinal, nunca vi ninguém se arrepender por manter a carteira fechada diante de ofertas "imperdíveis" das vitrines. E você?


Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com e prefere uma revista de palavra cruzada a um tablet na sala de espera do dentista porque é mais barato, mais leve, menor, não quebra se cair no chão, é reciclável e não costuma ser alvo dos ladrões. Eles não se interessam por palavra cruzada porque não sabem o sinônimo de "bandido" com nove letras. Não, não é "criminoso". A palavra começa com "M".

2 comentários:

  1. Se eu disser, perderá a graça. Vou deixar mais leitores quebrando a cabeça um pouco e mais tarde darei a resposta.

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