segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Na caixinha do correio


Antes do e-mail existia a carta. Antes da carta existia o pombo-correio. Antes do pombo-correio a coisa funcionava no grito mesmo e a mensagem não costumava ir muito longe. Óbvio.
                                                                                                             
O tempo foi passando e aquela carta com selo foi substituída por "@”, o correio passou a ser eletrônico e hoje todo mundo chama de "e-mail" porque está na moda falar inglês. Falando nisso, foi pensando nessa coisa fashion que Zeca Baleiro teve um insight e compôs o “Samba do Approach”.

Uma carta era muito mais interessante que o e-mail que usamos hoje. Nela podíamos reconhecer os amigos através da caligrafia naquele pedaço de papel. Já no e-mail é tudo igual, caracteres em Arial, Times New Roman.... tamanho 10, 12... negrito, itálico... tudo formatado, sem personalidade, sem a cara do remetente. Com a carta podia-se abusar da criatividade e usar papel de cor diferente, cortá-lo, dar formas e até borrifar um perfume, o que permitia que sua avó lá da roça enviasse uma carta manchada de barro e cheirando pasto, por exemplo.

Saber que alguém havia dedicado tempo e atenção para lhe enviar uma carta era muito gratificante e com muito prazer respondíamos. Não é como o e-mail de hoje que se envia de qualquer jeito na correria do dia a dia, pois receber um e-mail nem sempre significa que a pessoa se importe com você. É que clicar em “encaminhar” não custa nada, só isso.

A espera de dias ou meses por uma resposta da sua carta fazia parte da graça da coisa toda. Você ia vivendo sua vida e de repente era surpreendido quando o carteiro chegava. Hoje com o e-mail você já sabe que aquela mensagem que foi para o outro lado do Atlântico será respondida em alguns minutos e a única surpresa será se vier algo além de um “Kkkkkk” como resposta. Mas o e-mail também já está virando coisa do passado.

Havia também as cartinhas das “admiradoras secretas” – algumas delas nem tão secretas assim – que misteriosamente apareciam na caixa de correio de casa ou que eram entregues pelas amigas da “desconhecida”. Hoje com a internet os pobres adolescentes (e alguns adultos que esqueceram de crescer) têm um dossiê completo do alvo da paquera através do Facebook e isso acabou estragando o mistério. Perdeu a graça. Antes da internet e da febre das redes sociais tudo era bem mais divertido, natural e humano.

Guardamos cartas não só como lembrança, mas como uma forma de viajar ao passado e ver detalhes da nossa história que o tempo escondeu numa caixa de sapato empoeirada para então percebermos o quanto amadurecemos durante esses anos todos.

Precisamos de pouco espaço e poucas palavras para dizer o que realmente sentimos. No e-mail temos um espaço praticamente infinito e, como se não bastasse, temos ainda alguns megabytes disponíveis para anexos. Pra quê?

A tecnologia de hoje permite que se fale com qualquer um em qualquer lugar do mundo e até fora dele também, mas a comunicação escrita está cada vez mais fria e menos humana.

Hoje a maioria das pessoas com papel e caneta na mão não faz mais que uma simples lista de compra do supermercado. Fora isso, tudo agora é digitado. E-mail nós enviamos o tempo todo, a qualquer hora, mas, e carta? Quando foi a última vez que você escreveu uma? Aliás, como é a caligrafia do seu amigo? Com certeza não é “Times New Roman”, “Arial”, “Garamond”, “Comic Sans”...

Esse post que você acabou de ler pode ter algo a ver com este outro aqui que fiz no ano passado.



Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com e colocou uma casinha de cachorro no lugar da caixinha de correio de sua casa. O cachorro se chama “Spam” e é alimentado diariamente com anúncios promocionais, santinhos e ímãs de geladeira da companhia de gás. Dias atrás Spam estava brincando com um sapato e um pedaço de tecido amarelo que, coincidentemente, é da mesma cor do uniforme do carteiro...

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