Antes do e-mail existia a carta. Antes da carta existia o pombo-correio. Antes do pombo-correio a coisa funcionava no grito mesmo e a mensagem não costumava ir muito longe. Óbvio.
O tempo foi passando e aquela carta
com selo foi substituída por "@”, o correio passou a ser eletrônico e hoje
todo mundo chama de "e-mail" porque está na moda falar inglês.
Falando nisso, foi pensando nessa coisa fashion
que Zeca Baleiro teve um insight e
compôs o “Samba do Approach”.
Uma carta era muito mais
interessante que o e-mail que usamos hoje. Nela podíamos reconhecer os amigos
através da caligrafia naquele pedaço de papel. Já no e-mail é tudo igual,
caracteres em Arial, Times New Roman.... tamanho 10, 12... negrito, itálico...
tudo formatado, sem personalidade, sem a cara do remetente. Com a carta podia-se
abusar da criatividade e usar papel de cor diferente, cortá-lo, dar formas e
até borrifar um perfume, o que permitia que sua avó lá da roça enviasse uma
carta manchada de barro e cheirando pasto, por exemplo.
Saber que alguém havia dedicado
tempo e atenção para lhe enviar uma carta era muito gratificante e com muito
prazer respondíamos. Não é como o e-mail de hoje que se envia de qualquer jeito
na correria do dia a dia, pois receber um e-mail nem sempre significa que a
pessoa se importe com você. É que clicar em “encaminhar” não custa nada, só
isso.
A espera de dias ou meses por uma
resposta da sua carta fazia parte da graça da coisa toda. Você ia vivendo sua
vida e de repente era surpreendido quando o carteiro chegava. Hoje com o e-mail
você já sabe que aquela mensagem que foi para o outro lado do Atlântico será
respondida em alguns minutos e a única surpresa será se vier algo além de um
“Kkkkkk” como resposta. Mas o e-mail também já está virando coisa do passado.
Havia também as cartinhas das
“admiradoras secretas” – algumas delas nem tão secretas assim – que
misteriosamente apareciam na caixa de correio de casa ou que eram entregues
pelas amigas da “desconhecida”. Hoje com a internet os pobres adolescentes (e
alguns adultos que esqueceram de crescer) têm um dossiê completo do alvo da
paquera através do Facebook e isso acabou estragando o mistério. Perdeu a
graça. Antes da internet e da febre das redes sociais tudo era bem mais
divertido, natural e humano.
Guardamos cartas não só como
lembrança, mas como uma forma de viajar ao passado e ver detalhes da nossa
história que o tempo escondeu numa caixa de sapato empoeirada para então
percebermos o quanto amadurecemos durante esses anos todos.
Precisamos de pouco espaço e poucas
palavras para dizer o que realmente sentimos. No e-mail temos um espaço
praticamente infinito e, como se não bastasse, temos ainda alguns megabytes
disponíveis para anexos. Pra quê?
A tecnologia de hoje permite que se
fale com qualquer um em qualquer lugar do mundo e até fora dele também, mas a
comunicação escrita está cada vez mais fria e menos humana.
Esse post que você acabou de ler pode ter algo a ver com este outro aqui que fiz no ano passado.
Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com
e colocou uma casinha de cachorro no lugar da caixinha de correio de sua casa.
O cachorro se chama “Spam” e é alimentado diariamente com anúncios
promocionais, santinhos e ímãs de geladeira da companhia de gás. Dias atrás
Spam estava brincando com um sapato e um pedaço de tecido amarelo que,
coincidentemente, é da mesma cor do uniforme do carteiro...
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