sábado, 11 de maio de 2013

Amores



Qualquer um pode explorar as emoções usando o amor como tema. O cinema faz isso em duas horas e a música consegue o mesmo resultado em quatro minutos. Já a poesia consegue arrancar uma lágrima e um sorriso em poucos segundos.

Cheguei à conclusão de que, quanto menos tempo você precisar para falar sobre o assunto, mais fácil perceber o que esse tal de amor significa. Na verdade o que conta aqui não é o tempo, mas a intensidade. Por isso um simples olhar, apesar de silencioso e sutil, pode ser tão poderoso.

Dizem que existem vários tipos de amor. Já ouviu falar, por exemplo, de amor platônico?

Eu sei que sim, caro leitor. Tenho quase certeza de que você até já viveu um e é exatamente por isso que sei que você vai até o fim desse texto.

Amor platônico é aquele que normalmente acontece na adolescência, numa época em que não se sabe direito o que é amor, quem foi Platão e muito menos o que uma coisa tem a ver com outra. Aí um dia você descobre que o cara era um filósofo que dizia que o amor era uma mistura de realidade e fantasia sobre uma pessoa idealizada num tipo de relação sem envolvimento, sem contato, sem nada. Então você traduz tudo isso como se fosse um amor à distância e começa a desconfiar de que Platão era só um moleque inseguro e tímido que vivia no Facebook e não era macho o suficiente para chegar numa garota e convidá-la para um cineminha.

Será que esse mané ficou famoso só porque tinha um tipo de amor batizado com seu nome?

Quando você está prestes a abandonar de vez essa ladainha de amor platônico o Destino vem e lhe apresenta a Paixão. Pronto! Começa aqui o capítulo mais novela mexicana da sua vida com direito a trilha sonora e tudo mais.

Ah! A paixão. Ela funciona como as estações do ano: se não fosse pela data não saberíamos ao certo quando uma estação começa e outra termina, mas de alguma forma sentimos que uma delas está por perto.

A estação nos confunde às vezes. Você sente frio, mas não é inverno; a temperatura sobe, mas não é verão. E um dia a estação vai embora e tentamos esquecê-la.

Mas ela volta.

Volta diferente, talvez mais intensa, talvez menos, talvez mais bonita, mas nunca passará despercebida.

E o tempo passa com você mais experiente, maduro e percebendo que o conceito daquele amor filosófico era perda de tempo. Então você resolve deixar Platão e toda a sua filosofia de lado para se dedicar às outras disciplinas dessa escola dos sentimentos: a química do amor, a física do amor e também a biologia e a matemática do amor. É quando tudo começa a ficar realmente interessante, mas também mais complicado porque você encara todas essas matérias ao mesmo tempo. Mas o esforço vale a pena.

Infelizmente alguns abandonam o barco e passam a viver uma vida de ilusões. É por isso que há muita gente carente sozinha por aí ajudando autores de livros de sexo autoajuda a subirem no ranking dos mais vendidos.

Se você insiste em encontrar alguém que te "complete", esqueça. Acho que seu conceito sobre relacionamentos está distorcido. Deve ser por isso que seus relacionamentos não dão certo e você deve ser um daqueles que começa um namoro achando que não vai ter tempo para os amigos, que vai deixar de fazer as coisas que fazia antes etc. Saiba que não é bem assim que as coisas funcionam.

Provavelmente você é mais um daqueles que passa muito tempo na frente da TV engordando chorando com finais de filme mela cueca e vive torcendo para um final feliz daquele casal "chove-não-molha" da novela das nove.

Espero que você saia dessa e possa rir disso tudo um dia. Espero que nesse dia venha outra estação e você encontre alguém para que possam aprender algo um com o outro e também juntos, mas não espere que esse alguém satisfaça todas as suas necessidades.

Entenda que ninguém mudará sua vida radicalmente. É claro que alguma coisa vai mudar, mas você continuará sendo você, só que melhor. Com um pouco de tempo vocês ampliarão seus horizontes e essa pessoa fará você compreender que o amor é outra coisa e que... o quê mesmo? Ah! Deixa pra lá, esse papo está ficando muito piegas.


Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com e professor de arco e flecha do cupido.

3 comentários:

  1. professor de arco e flecha, kkk! Ótima essa sua postagem. Uma ironia muito gostosa de se ler. Fiquei decepcionado com Platão, contudo mais dia menos dia isso teria que acontecer. Estou quase saindo da adolescência e acabaria por descobrir isso. Tenho um pouco de receio da paixão, mas se passar maus bocados com isso, recorro ao Guigo, professor de arco e flecha do cupido. Rs...rs!
    Um abração
    Manoel

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  2. Amor amor, as pessoas criam tantos tipos de amor. Bem direto e sincero seu texto, quem nunca teve o tal amor platônico? na verdade, eu acho que amor mesmo,é um só. O resto, é ilusão, fantasia, paixão e seja lá mais o que for. Eu deixei meu platão de lado faz tempo, e encontrei esse tal alguém que não me mudou radicalmente, mas me fez ser uma pessoa bem melhor.
    Me identifiquei com seu texto, é bem assim..
    Vim através do blog do óbvio, estou te seguindo:*


    Coruja Essência

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  3. Recentemente estive refletindo sobre esse fato citado no segundo parágrafo. Esse post veio como uma resposta para algumas questões que ficaram na minha cabeça. E realmente vejo que intensidade e longos períodos caminham em sentidos opostos na estrada dos sentimentos. Se não for breve, não é intenso. É como "aquilo" que aprendemos nas aulas de Física: quanto menor a área, maior a pressão produzida. Por que não pode ser longo e intenso? rs...Seria perfeito. Masss, essas indagações só confirmam os ditos populares: "O que é bom dura pouco" e "Perfeição não existe"
    Adorei o post.
    Também estou aqui através do Blog do Óbvio.

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